Quem o conhece, sabe: o Photoshop é uma ferramenta pródiga, de uso só limitado pela imaginação de quem o utiliza.
Aqui no Brasil, a Playboy foi a maior responsável pela popularização deste poderoso aplicativo, passando a fazer uso indiscriminado dele nos seus ensaios de nu desde que a Adobe lançou a primeira versão do software, há muitos e muitos anos.
Graças a ele, a Playboy transformou mulheres bonitas em mulheres perfeitas. E vendeu milhares de exemplares das edições da famosa revista masculina.
Uma amostra disso tem sido o tiro-pela-culatra que Juliana Paes provocou ao se queixar de que tinham vazado fotos do ensaio dela sem os habituais "tratamentos" feitos pela competente equipe da editoria de arte da Playboy (e que acabou revelando pequenos sinais às costas da modelo e dublê-de-atriz, além de leve celulite nos glúteos). Resultado: uma verdadeira festa para designers e arte-finalistas de plantão, que têm disseminado pela internet várias imagens exageradamente distorcidas da pobre moça, aproveitando-se da "deixa" em questão.
Talvez seja o momento mais do que oportuno para falar das "fotos maravilhosas" que permeiam o universo editorial, e isso também deveria servir para mostrar o "outro lado" dos falsos ideais de beleza: se alguém quer olhar uma mulher bonita que a procure nas ruas, e não nas páginas da Playboy.
É possível que não existam mulheres "perfeitas" e homens "perfeitos" nas ruas, mas nas revistas é que eles certamente não existiriam sem o uso do Photoshop.
Uma coisa é usar uma ferramenta de edição para composição de elementos gráficos num contexto de página, ou ainda para corrigir alguma sujeira que tenha eventualmente se interposto na lente da câmera ou durante o processo antigo de revelação fotográfica; outra é adulterar a foto em si.
Mas há que se perguntar: afinal, qual é a diferença entre as mulheres criadas em computador e as "corrigidas" pelo Photoshop?
Por R$ 10,90
Juliana Paes não deixou de ser bonita por causa de uma celulite ou de um sinal, mas revelou que é notadamente questionável o nível de inteligência de quem quer ser "perfeito" e de quem quer consumir "perfeição".
Utilidade pública: com R$ 10,90 você pode comprar uma Bravo!, uma Cult ou uma Trip, só para citar algumas revistas que têm conteúdo e que respeitam seus leitores. Também pode comprar um vinho tinto argentino em promoção nos hipermercados, enquanto os hermanos seguem na pindaíba deles (que é um pouco diferente da nossa pindaíba, mas nem tanto), para assistir bem acompanhado ao Observatório da Imprensa na televisão na terça-feira.
Você é contra bebidas alcoólicas? Está bem, você está certo: então pode encomendar uma razoável pizza média em algum serviço de tele-entrega. Pode levar seu filho para assistir a uma peça de teatro infantil e tirá-lo um pouco da frente do massacre televisivo. Pode comprar um pequeno buquê de flores ou pode pagar um almoço decente para uma criança pobre das ruas.
Você pode fazer várias coisas com R$ 10,90 – só não pode mesmo é dar dinheiro para que enganem você.
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